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Exposição Individual - Carnação (2024)

Exposição individual

Exposição individual ocorrida na galeria Sebastião dos Reis no Centro Cultural Octo Marques em Goiânia

Data

Maio de 2024

Em sua primeira exposição individual, Walter Pimentel apresenta um conjunto de pinturas impactantes, desenvolvidas entre 2023 e 2024, que interessam ao olhar e ao pensamento tanto pela elaborada fatura, quanto pela profundidade e complexidade de seus significados. Resultadas do decantamento de um processo criativo orientado pelo saber teórico, pela vivência espiritual, pela experimentação técnica e pela subjetividade adensada, suas obras fazem da fotografia de arquivo base para a construção da pintura figurativa, sublinhando a importância desta no cenário de arte contemporânea.
A palavra carnação, que dá título à exposição, faz referência à técnica acadêmica que simula a representação da pele humana em pinturas tradicionais e mesmo em obras sacras tridimensionais. A finalidade é utilizar os meios pictóricos para imprimir sobre a criação artística uma aparência semelhante à da vida pulsante, mimetizando a natureza. Entretanto, na pintura de Walter Pimentel, a carnação se dá por outras técnicas e com outras intenções: busca configurar a carne da própria pintura que dá vida às figuras animadas por intensas pinceladas e por depósitos de massas espessas de tintas. Durante o processo de pesquisa de sua linguagem e de invenção de sua poética, no embate com a escultura e com a técnica do entalhe, ele descobriu a possibilidade de criação dessa carne por meio da pintura. Criou uma carne singular consistentemente assentada sobre a superfície do quadro, com musculatura vigorosa feita de cores iluminadas por fontes de luz desconhecidas que parecem ter origem espiritual. Seus contrastes entre claros e escuros criam de maneira singular uma plasticidade suntuosa e barroca.
As figuras encarnadas nas pinturas de Walter Pimentel derivam de um arquivo de fotografias de familiares que ele utiliza como motivo. Trata-se de imagens feitas entre as décadas de 1930 e 1970, registradas em Palmelo, cidade do interior goiano que nasceu em torno de um templo espírita fundado em 1929. São retratos, cenas com crianças, grupos de mulheres, imagens de festas e de obituários, que ao serem refeitos na pintura, passam por transformação radical mudando seus estatutos de imagens para figuras, adquirindo vida independente da fotografia. Na transposição para a pintura, não interessa ao artista rever os dados biográficos das pessoas retratadas; e nas composições mais complexas, além dos retratos, insere outras fontes visuais — ilustrações do francês Gustav Doré para a Divina Comédia, por exemplo — dilatando o grau de estranheza das enigmáticas pinturas que ele cria. Ao mesmo tempo distantes e próximas, suas figuras mostram vitalidade e provocam a vibração das células das nossas memórias, individual e coletiva, ativando as batidas afetivas dos nossos corações.
Walter Pimentel extravasa os limites do suporte ao aplicar espuma expandida para deformar e dilatar as bordas da tela. Trabalha com grande quantidade de tinta, seja guache aplicado sobre papel ou tela, seja a óleo. A ela, acrescenta pó de mármore e óleo de linhaça, abundantemente aplicados sobre a superfície, potencializando a elasticidade, o volume, a densidade e o peso da matéria pictórica. Com isso, cria uma espécie de relevo, modelando os rostos das figuras e os detalhes dos elementos presentes ao fundo.
Passando por uma fase de amadurecimento técnico e de aprofundamento poético, trabalhando com afinco e seriedade, Walter Pimentel é, em Goiás, o mais refinado pintor de sua geração; sua pintura, ainda que comprometida com os enigmas de si mesma, penetra em nossa mente como reflexo do espírito do nosso tempo.
Divino Sobral
Curador

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